Arquiteto de dados. Em inglês, Data Architect. Em grego architéktonas dedoménon…

Luciano McSilva
6 min readDec 13, 2020

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Limão de um Arquiteto de Dados

Nas últimas duas semanas, sem nenhum motivo aparente, me peguei refletindo sobre o meu papel, muitas vezes incompreendido, de arquiteto de dados e toda a transformação obtida com o time nos últimos anos. A tentativa dessa ponderação é separar o joio do trigo, o céu do inferno, as crianças dos adultos, o mimimi do fato legítimo. Em outras palavras, gostaria de contar como fiz minha limonada com baunilha dado os limões que a vida me deu.

Notas iniciais: se você nunca tomou limonada com baunilha, a acrescente na lista de 100 coisas para tomar antes de morrer. E sim, darei o meu melhor para rechear esse texto de ditos populares.

No mundo corporativo tradicional, principalmente das incumbent companies (cuidado com o falso cognato), arquitetura de dados pode ser visto como a paz mundial, a busca pelo fim da fome na África. Como de médico e louco, todo mundo tem um pouco, você até vai encontrar aquele capiau que defende abertamente o fim da atividade. Mas regra geral (sim, eu sei que tá errado) todos dirão que uma empresa para sobreviver no mundo digital precisa cuidar dos seus dados. E parar as guerras, e acabar com a fome. Difícil será ver alguém tomando qualquer medida para isso ocorrer, ainda mais quando se coloca o menor atrito com os objetivos individuais de cada departamento.

Uma andorinha sozinha não faz verão, ainda mais em terra tupiniquim que Geert Hofstede classifica como coletivista. Aqui em terra brasilis que santo de casa não faz milagre mesmo. Mas como não há mal que dure para sempre, arquitetos de dados devem ser como água em pedra dura.

Trabalhamos e sofremos muito nos últimos anos. Deus ajuda quem cedo madruga, e madrugamos muito! Conseguimos não só defender nosso espaço como ampliar nossa influência.

Abaixo organizei uma lista com 5 aprendizados que acredito possam ajuda-los com a evolução do seu time. Cuidado com atalhos, nem tudo são flores e o barato sai caro.

1. Antes só do que mal acompanhado.

Primeiro as primeiras coisas. Você precisa de pessoas qualificadas no seu time e dispostas a mudar, afinal águas passadas não movem moinho, mas lembre que a idade apura os bons vinhos e azeda os maus. Arquitetos de dados no mundo de hoje não é o mesmo que arquiteto de dados da época da big blue. Você vive em terra de cego, mas evite contratar os reis. Não abra mão de encontrar as pessoas certas para seu time. Isso dá muito trabalho, mas faz toda diferença. Um exímio profissional produzirá mais do que dez profissionais apenas preparados.

2. A preguiça é mãe de todas as inovações

Arquitetos de dados foram acostumados a fazer dezenas de pequenos controles na mão, quase que reforçando a tese de que a repetição leve à perfeição. Nomes precisam ser do tipo string e datas precisam ser….datas. Metadados precisam ser preenchidos e coerentes entre as centenas de entidades existentes. E não se deve criar dados mestres a torto e a direito. Em pleno início da quarta revolução industrial não dá mais para fazer essas atividades manualmente. Se seu time não é versado em desenvolvimento, contrate um desenvolvedor. É importante essa diversidade no time, afinal ninguém toca flauta e chupa cana ao mesmo tempo.

3. Potência não é nada sem controle

O que não se mede não evolui, e assim como os homens, não se medem processos em palmos. Uma das primeiras coisas que estabelecemos no time quando eu assumi, junto com a inclusão do Kanban como ferramenta de distribuição de atividades, foi medição de produtividade dos times. Lembre-se de que de boas intenções o inferno está cheio, mas evite cair na tentação de comparar pessoas diferentes do seu time com a mesma régua, afinal, cada macaco tem seu galho.

E agora que você tem um time de alta performance, e inclusive um desenvolvedor, cuidado para não se lambuzar no melado. Mais vale uma boa métrica na mão, do que dezenas que ninguém usa. Escolha o que de fato lhe ajude a andar para frente, devagar e sempre. Em particular, crie métricas para mensurar qualidade vinda dos diferentes times, sempre auferindo tudo. Afinal, é melhor prevenir do que remediar.

Por fim, crie parcerias com essas equipes, afinal, se contigo andas, sabemos quem vos sois. E isso nos dá o gancho para a quarta dica.

4. Sozinhos vamos mais rápido, juntos vamos mais longe

É inegável que a batalha de manter os arquitetos de dados como time centralizado está perdida. Mas não se pode deixar esse pau nascer torto; é importante entortar esse pepino desde pequeno.

Quem desdenha quer comprar, e após organizarmos a casa da progenitora joana, iniciamos um audacioso processo de treinamento que batizamos de judô. Cada um dos senseis de arquitetura de dados treinara alguns dos melhores desenvolvedores dos demais times, laureando-os com faixas que demonstram o grau de conhecimento. É um trabalho de formiguinha onde o hábito faz o judoca. A faixa preta é a mais suprema condecoração e que permite ao discípulo total acesso aos ambientes de deploy de modelos de dados, com total autonomia.

Com controles na mão, judocas no time e muita automação fomos ao infinito…e além. Criamos os times emancipados. Emancipados, porque a palavra autonomia sozinha não trazia o quê de responsabilidade que esses times assumem. E o nosso time, antes visto como feio na visão de outrem, passou a ser bonito.

Colhemos o que plantamos, e pudemos perseguir nossa última peça do nosso sonho grande.

5. Mão de mestre não suja ferramenta.

Não tente começar seu trabalho por esta quinta dica, o apressado come cru e minha avó já dizia para não colocar a carroça na frente dos bois. As quatro dicas anteriores são essenciais para deixar o saco de pé. A crítica que arquitetos de dados sofreram nas últimas décadas vieram para o bem. A emancipação dos desenvolvedores nos permite assumir papeis mais estratégicos e buscar o que todos nós sonhamos, que é organizar os dados da instituição onde trabalhamos.

Diz a lenda que projetistas de grandes navios cobram pouco pelas marteladas, mas muito por saber onde bater. Arquitetos de Dados precisam sair do dia a dia para se tornarem relevantes e ajudar onde de fato agregam valores para as instituições. Não dá para enxergar elefantes se focando nos ratos.

Com os times federados — ou seja, seguindo nossas metodologias, mas dentro de suas próprias trupes — os arquitetos de dados precisam olhar para a organização do alto, de forma corporativa, ou como diz nossos irmãos anglófonos, enterprise wide.

Aqueles que chegam nesta fase são eternamente responsáveis por aqueles que ensinam. E precisam, além dos treinamentos constantes dos times, das novas técnicas e novas tecnologias, prover seus tutelados com novos artefatos, novos mapas.

Identifique todos os dados mestres da instituição para que seus convertidos não criem variações do mesmo tema, mesmo sem sair do tom. Invista em ontologia, para entregar um mapa conceitual e canônico dos dados da instituição e que orientem todos na construção dos seus modelos de dados. Crie uma linguagem ubíqua. Aja sempre com muita cautela, que mesmo em excesso não faz mal. Agora de onde você se encontra, o tombo é mais alto.

E se você também é arquiteto de dados, gostaria de convidar você, andorinha, a não deixar para amanhã e dividir conosco suas estratégias. Afinal, a união faz a força e é dando que se recebe, sem olhar os dentes, claro. E saiba, que nada melhor que um dia após o outro e lembre-se que a esperança é a última que morre. Quem cala, consente e quem avisa, amigo é.

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